sexta-feira, janeiro 12, 2007

Avaliação mais rigorosa e integrada das variáveis e abordagem mais fina dos processos psicológicos


Lá vai o tempo em que gordura era sinónimo de formosura. Agora o ditado é outro e ser magro é que está na moda. Mas, o que se alterou em termos psicológicos e fisiológicos? O que origina as perturbações alimentares? Para dar respostas a estas questões, a Universidade de Aveiro, em parceria com a Universidade do Minho, desenvolveu um modelo computacional, o Bio-DreAMS, que vem substituir as réguas dos psicólogos na análise dos sintomas destas patologias, entre as quais as conhecidas Anorexia e Bulimia.

A busca obsessiva pelos 86-60-86 das passereles tem várias formas de se manifestar. As perturbações alimentares mais tradicionais são a Anorexia e a Bulimia nervosas. Para tentar perceber se existe alguma relação entre o percurso de desenvolvimento mental das bulímicas e das anorécticas, a Universidade de Aveiro desenvolveu uma inovadora tecnologia que tem vindo a revolucionar o trabalho dos psicólogos nesta área.

Aos cerca de 40 minutos, gravados em vídeo, de conversa entre o paciente e o psicólogo que permite obter toda a história do seu passado, aos valores do batimento cardíaco recolhidos através do electrocardiograma e às linhas do suor das mãos, o modelo computacional Bio-DreAMS, desenvolvido pela Universidade de Aveiro, acrescenta a sincronização, como explica João Paulo Cunha, investigador responsável pelo projecto.

«Há uma tendência actual na Psicologia para trabalhar não só a narrativa das entrevistas mas também analisar, com recurso ao vídeo, a vertente comportamental. O nosso modelo permite ainda acrescentar a análise fisiológica sincronizada, que possibilita aos técnicos medir variáveis fisiológicas durante a entrevista e as suas diferentes partes que têm objectivos específicos do ponto de vista da avaliação psicológica».

Nesta linha, Isabel Soares, coordenadora do projecto na Universidade do Minho, sublinha que «o BioDreAMS não só permite fazer uma avaliação mais rigorosa e integrada das variáveis psicológicas e biológicas, como possibilita também uma abordagem mais fina dos próprios processos psicológicos envolvidos, nomeadamente do discurso e das emoções».

Como explicou John Klein, um dos investigadores da Universidade do Minho envolvido neste estudo, «no decorrer das entrevistas, são colocadas questões para averiguar que tipos de experiências é que esse paciente viveu ao longo da sua vida. Em função disso, vão emergir emoções e pensamentos, que vão sendo expressos não só por palavras como também através de sinais biológicos. Essas medições vão permitir verificar se existe uma coerência entre aquilo que a pessoa diz, as emoções que manifesta para o exterior e como é que as reacções corporais aí se enquadram. Ou seja, se existe uma coerência entre as emoções transmitidas e o batimento cardíaco».

Para além do rigor e da eficiência, esta tecnologia veio revolucionar, também, o trabalho dos investigadores, na fase pós-entrevista, substituindo as réguas, nos consultórios de psicólogos e cardiologistas, nas cotações e na selecção dos episódios. Como explicou João Paulo Cunha, «o computador permite-lhes automatizar, com a evidente supervisão humana, tudo aquilo que eles faziam com a régua e organizar todo o work-flow das avaliações psicológicas. Isso implica cotar a entrevista e os episódios. A nossa equipa automatizou esse procedimento que era feito em formato papel, possibilitando ainda colocar três pessoas a fazer a avaliação, apresentando um resultado final de acordo com os três. Além disso, possibilita a exportação destes dados para softwares terceiros de análise estatística».

Neste momento, a equipa de investigação está a terminar a fase de desenvolvimento respeitante à recolha psicológica e à análise da amostra psicológica, mas a recepção às primeiras experiências realizadas com este modelo permitem antever bastante sucesso. Depois das ondas QRS do coração e das linhas do suor das mãos, rigorosamente sincronizadas, o próximo desafio será o electroencefalograma, uma ferramenta essencial para perceber o que está por detrás dos problemas da mente.

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