A DECO PROTESTE detectou falhas graves nas consultas de aconselhamento alimentar dadas em centros de estética, institutos de beleza e ginásios. Metade das dietas são desequilibradas e perigosas para a saúde e, mais grave, são aconselhadas mesmo a quem não precisa de emagrecer. Além disso, orientam muitas vezes para a compra de produtos caros e dispensáveis. Estas são as principais conclusões da visita anónima a um total de 39 consultas, cujos resultados foram publicados na revista TESTE SAÚDE .
Para a investigação, a revista de defesa do consumidor especializada em assuntos de saúde enviou para o terreno colaboradoras com perfis diferentes: uma muito magra que, embora não precisasse, queria emagrecer 4 quilos; e uma obesa, que pretendia perder 20 quilos em cerca de 6 meses.
No primeiro caso, seria de esperar que lhe dissessem que não precisava de perder peso, não lhe passando qualquer regime para emagrecer. Mas a maioria dos profissionais recomendaram. "Esta atitude é grave", afirma a revista de defesa dos consumidores, "pois pode levar a desnutrição e ajudar a desenvolver distúrbios do comportamento alimentar como, por exemplo, anorexia nervosa".
Perante uma pessoa obesa que deseja perder 20 quilos em 6 meses, a atitude correcta seria chamar a atenção para as consequências de um emagrecimento demasiado rápido, que só se conseguiria à custa de um regime muito restritivo, eventualmente perigoso para a saúde. "Mas metade não hesitou em corresponder às expectativas da cliente, mesmo sabendo que é pouco recomendável", denuncia a TESTE SAÚDE.
Apenas em 12 casos, os profissionais prestaram um bom serviço. Efectuaram medições de peso e altura, fizeram um levantamento do historial clínico e dos hábitos alimentares e passaram um bom programa de emagrecimento, no caso da colaboradora obesa, com uma dieta equilibrada e exercício físico. Tiveram ainda o cuidado de alertar para os riscos de um emagrecimento muito rápido. No caso da colaboradora magra, desaconselharam-na a perder peso, limitando-se a fornecer conselhos sobre estilos de vida saudável (alimentação e actividade física).
Uma consulta de aconselhamento alimentar pode custar entre 15 e 110 euros. Nalguns locais, foi gratuita, mas depois incitaram a gastar dezenas de euros em produtos no estabelecimento.
Em quase metade dos casos, as colaboradoras saíram da consulta com chás, infusões, ampolas, xaropes, etc., muitos ditos “naturais”. "O facto de serem à base de extractos de plantas não significa que sejam inócuos”, realça a TESTE SAÚDE. Podem, por exemplo, sofrer contaminações por microrganismos, pesticidas e metais pesados. Alguns são laxantes ou diuréticos: fazem perder peso pela eliminação de urina ou fezes, em vez de gordura. Como tal, não servem. Podem ainda desencadear desequilíbrios de minerais com consequências graves (por exemplo, distúrbios do ritmo cardíaco).
O conselho da DECO PROTESTE é que os consumidores não recorram a qualquer tipo de produto para perder peso sem orientação e vigilância de um especialista. Para emagrecer de forma saudável e duradoura, não existem soluções milagrosas. A receita passa sempre por alterar comportamentos, ter alguma força de vontade e persistência para manter uma dieta saudável e equilibrada, a par da actividade física.
Manter a linha é mais do que uma questão estética e não deve ser uma preocupação só nos meses que antecedem o Verão. Procure ter uma alimentação saudável e variada ao longo de todo o ano, além de uma actividade física regular.
Antes de iniciar qualquer dieta, é aconselhável ir ao médico. As dietas de emagrecimento devem ser equilibradas e não demasiado restritivas. Um dos erros mais frequentes consiste em reduzir em demasia ou mesmo eliminar o pão, o arroz, as massas e as leguminosas. Mas cerca de metade da nossa energia deve ter origem nestas fontes de hidratos de carbono de absorção lenta.
Deve perder-se peso gradualmente e não em poucas semanas, sob pena de emagrecer à custa de perda de massa muscular e não de gordura. Ao reduzir a massa muscular, torna-se cada vez mais difícil perder peso e mantê-lo. Além disso, emagrecer depressa leva a grandes perdas de água, sódio e potássio, com riscos para o coração, fígado, rins e aparelho gastrointestinal.
Dado o cenário preocupante do estudo publicado na TESTE SAÚDE, a DECO exige ao Ministério da Saúde e à Agência da Segurança Alimentar e Económica que regulamentem e fiscalizem esta actividade.
Urge:
especificar a qualificação profissional de quem pode exercer esta actividade;
criar regras para o registo dos estabelecimentos com estes serviços;
indicar a quem cabe a tutela e fiscalização deste sector, já que estas consultas se encontram em todo o tipo de estabelecimentos.
Esta associação de defesa do consumidor apela ainda ao Ministério da Saúde para a necessidade de intensificar o combate à obesidade no nosso país. Estima-se que metade dos adultos e um terço das crianças já tenham peso a mais. Entre outros malefícios, esta doença aumenta o risco de hipertensão, doença coronária, acidentes vasculares cerebrais ou diabetes. É urgente melhorar o acesso a consultas de obesidade e aconselhamento alimentar no Serviço Nacional de Saúde. A bem da saúde pública.
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