quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Pesquisa dá novo enfoque à compulsão alimentar

13/02 - 21:47 - The New York Times
Compulsão por comer ainda não é oficialmente classificada como uma doença psiquiátrica. Mas pode ser mais comum do que dois distúrbios alimentares agora reconhecidos, anorexia nervosa e bulimia.
O primeiro estudo nacionalmente representativo sobre distúrbios alimentares nos EUA, uma pesquisa nacional com mais de 2.900 homens e mulheres, foi publicada por pesquisadores de Harvard no dia 1º de fevereiro no diário Biological Psychiatry. Ele descobriu uma prevalência na população geral de 0.6% de anorexia, 1% de bulimia e 2.8% por distúrbio de alimentação excessiva.
Índices dos distúrbios, os pesquisadores descobriram, são maiores em grupos de jovens, sugerindo que o problema é crescentemente comum. Distúrbios alimentares são quase o dobro mais comuns em mulheres do que os homens, segundo o relatório.
Especialistas não envolvidos na pesquisa chamaram-na de significante. “Esse é provavelmente a melhor pesquisa já conduzida sobre as freqüências de distúrbios alimentares em lares americanos”, comentou dr. B. Timothy Walsh, diretor da unidade de pesquisa sobre distúrbios alimentares no Instituto Psiquiátrico do Estado de Nova York, no centro médico da Universidade Columbia.
“Isso confirma que a anorexia nervosa e a bulimia não são comuns, mas são doenças sérias, especialmente entre mulheres”, disse Walsh. “Também confirma que muitos indivíduos, especialmente aqueles com obesidade significativa, são perturbados por compulsão alimentar, e não entendem a importância de entender melhor esse problema”.
A pesquisa, em parte financiada por duas empresas farmacêuticas, foi conduzida de 2001 até 2003 entre adultos com 18 anos ou mais, e os diagnósticos foram feitos usando entrevistas ao vivo.
Enquano os três distúrbios alimentares aparecem na bíblia de diagnósticos da Associação Americana de Psiquiatria, o Manual de Diagnósticos e Estatísticas para Distúrbios Mentais, ou DSM-IV, distúrbio de compulsão alimentar não é considerado um diagnóstico definitivo como anorexia ou bulimia. Pelo contrário, é uma das inúmeras categorias que exigem maior estudo.
Alguns suspeitam que estabelecer a compulsão alimentar como um diagnóstico psiquiátrico é meramente uma tentativa de psiquiatras e empresas de remédio “medicalizarem” o que seria considerado um simplesmente normal, talvez infeliz, comportamento humano. A dra. Cynthia M. Bulik, diretora do programa de distúrbios alimentares na Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, não vê dessa maneira.
“São os pacientes que querem isso no DSM para que eles possam receber tratamento”, comentou Bulik. “Eu recebi e-mails de pessoas dizendo:’Obrigado por colocar um nome nessa compulsão alimentar’”.
“O distúrbio não tem um diagnóstico que fará com que eles recebam pagamentos do seguro”, ela continuou. “Eles têm uma síndrome horrível com implicações séria de saúde, sabendo que existe um tratamento baseado em evidências e não tem como consegui-lo porque ele não é oficialmente reconhecido como um diagnóstico”.
O diagnóstico de compulsão alimentar exige que uma pessoa coma uma quantidade excessivamente grande em um período de duas horas ao menos duas vezes por semana durante seis meses, sinta uma falta de controle nos episódios, e vivencie agonia clara em relação à prática.
A dra. Marlene B. Schwartz, diretora dos programas escolares e de pesquisa para o Centro Rudd para Políticas Alimentares e Obesidade de Yale, que não teve participação no estudo, disse que compulsões alimentares “não eram uma questão de somente comer demais de vez em quando”.
“O diagnóstico exige que seja um sentimento que você não tem controle”, disse Schwartz. “E é essa perda de controle que torna um distúrbio psiquiátrico diferente de alguém simplesmente se enchendo de comida de vez em quando”.
O dr. James I. Hudson, o principal autor do novo estudo, disse que compulsão alimentar estava associada com obesidade, particularmente severa obesidade.
Um diagnóstico de anorexia exige uma recusa de manter ao menos 85% do peso normal e uma visão distorcida de seu peso ou formato do corpo. Bulimia é caracterizado por episódios recorrentes de compulsão alimentar ao menos duas vezes por semana durante três meses e depois compensar pelo comportamento, normalmente induzindo vômito ou abusando de laxantes e outros remédios.
Distúrbios alimentares, os pesquisadores descobriram, são normalmente acompanhados por outras doenças psiquiatricas. Na pesquisa, mais da metade das pessoas com bulimia tinham uma grande depressão, 50% tinham fobias e mais de um terço tinha problemas de abusos de substâncias. No geral, mais de 94% das pessoas com bulimia, 56% dos com anorexia e 79% daqueles com compulsão alimentar tinham ao menos um outro diagnóstico psiquiátrico.
“Obesidade é um ponto final, e existem muitos caminhos lá”, disse Bulik. “Uma das coisas que eu procuro é fatores modificadores de comportamento. Essa pesquisa mostra que compulsão alimentar é relativamente preponderante. Para uma certa porcentagem da população, isso é um comportamento modificador”.
Nicholas Bakalar

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