sábado, junho 02, 2007

Em época de moda praia, polêmica da anorexia ronda as passarelas

Por Fernanda Ezabella
SÃO PAULO (Reuters) - Um exército de modelos de biquínis se prepara para exibir suas curvas -- ou a falta delas -- nas passarelas do Rio de Janeiro e São Paulo a partir da próxima semana, começo da temporada primavera-verão. A superexposição do corpo, com as micropeças de estilistas renomados, deve trazer à tona a polêmica campanha do começo do ano contra distúrbios alimentares.
Algumas pessoas ligadas ao mercado fashion acreditam, no entanto, que o debate sobre anorexia e bulimia já se esgotou e que os estilistas tendem a escolher mulheres mais cheias de curvas para desfilar biquínis minúsculos e vestidos curtíssimos.
Mas, por outro lado, há também quem acredite que o tema não pode ser deixado de lado tão rápido e que ele ficará ainda mais evidente com a superexposição das modelos na passarela. E, para as que encaram a passarela e os flashes dos fotógrafos, a ansiedade triplica.
Segundo o booker Fábio Ferrari, da Elite, há profissionais que só desfilam nesta época do ano, quando a exigência com o corpo é bem maior. "Tem que estar com tudo em cima, rola um preparo grande e, lógico, uma ansiedade bem maior", explica.
Para ele, a campanha deflagrada na temporada de outono-inverno, em janeiro, teve resultado parcial. Deu certo para conscientizar as modelos dos distúrbios alimentares, que chegaram a matar modelos em 2006, mas estilistas e produtores continuam preferindo as "magrelas" e fazendo roupas no mesmo padrão "tamanho 0", disse Ferrari.
David Azulay, dono da grife de beachwear Blue Man, explica a contradição. "Eu gosto de mulher gostosa, com perna, com bunda. Mas chega na passarela, aquela perna e aquela bunda podem pesar três vezes mais do que é", disse.
"Eu fico com medo de colocar mulher muito magra (na passarela), porque a gente vende biquíni, tem que expressar saúde, a pele tem que estar bem bacana, é um casting mais seletivo", explica.
Azulay acredita que a imprensa e o mundo fashion deixaram o problema das modelos anoréxicas um pouco de lado, já que as "notícias ruins" deram um tempo. "Mas o problema continua, as meninas têm que emagrecer, mas faz parte", disse.
FORA DE MODA?
O Fashion Rio, no qual a Blue Man desfila na semana que vem, não pretende tocar mais no assunto, enquanto o São Paulo Fashion Week terá pela segunda vez seguida uma campanha de saúde para modelos, embora não tenha ainda divulgado o que será tratado.
"Completamente (se esgotou o assunto). Não há mais o que falar", disse Eloysa Simão, diretora do evento carioca.
Segundo ela, o Fashion Rio já cuida de suas modelos há muito tempo, cumprindo leis que exigem a participação de profissionais acima de 16 anos, além das agências pedirem atestado médico, atitudes que o SPFW passou a aderir em janeiro.
Para Maria Prata, editora de moda da Vogue, o assunto não se esgotou, mas ela acredita que as medidas que poderiam ser tomadas nas semanas de moda foram de fato realizadas. O debate, no entanto, tem que continuar.
"As pessoas (que trabalham com moda) precisam olhar por essas meninas, cuidar para que elas vivam e comam normalmente", disse Prata. "Todo mundo que trabalha no meio tem mais experiência que qualquer modelo de 15, 16 anos, que muitas vezes não têm a menor estrutura familiar. Temos que ficar atentos."
Embora o tema da anorexia e bulimia pareça ter saído de moda assim como o vai-e-vem de tendências, a editora acredita que ele "deve estar em pauta, sempre".
"O assunto sofreu o que muitas celebridades sofrem: o problema da overexposure (superexposição). Falou-se demais, ninguém aguentava mais", disse Prata.
"Não acho que a imprensa tenha que ficar falando disso o tempo todo e também não acho que, se não sai na imprensa, é porque o assunto foi esquecido. É uma questão que deve estar em pauta, sempre."
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