sexta-feira, janeiro 12, 2007

A recente notícia da morte por anorexia da modelo brasileira Ana Carolina, vítima de insuficiência renal aos 21 anos, remete-nos mais uma vez para a questão da tirania da magreza que há demasiadas décadas envenena a imagem feminina. É uma ditadura que nos entra todos os dias em casa através da publicidade, do cinema e sobretudo das revistas femininas, criando nas mulheres um enorme complexo de culpa por não corresponderem a padrões considerados ideais, aos quais 99% da população não chega nem de perto. E o que é que isto tem a ver com sexo? Muito mais do que qualquer leitor imagina, já que para as leitoras, tudo é muito mais claro.Para as mulheres, a estética no acto sexual é fundamental para um bom desempenho. As mulheres têm de se sentir desejáveis para se sentirem desejadas. E, se durante séculos curvas e carnes eram símbolo de formosura, hoje um pneu na cintura é um drama universal. Logo, é quase impossível dissociar a boa forma física de uma boa performance.O que é mais irónico é que esta escravatura tenha sido imposta pela indústria da moda e da cosmética com o beneplácito das directoras e editoras de moda e de beleza. Logo, não ser magra é quase sinónimo de não ser desejável, como se de uma regra se tratasse, o que felizmente não corresponde à realidade.A questão do tamanho do peito ou do rabo não incomoda os homens. Nunca ouvi um homem dizer que fulana de tal tinha um peito demasiado pequeno ou um rabo demasiado grande. O que eles comentam é se os ditos são ou não bem feitos.A Jeniffer Lopez tem um rabo grande e é um ícone sexual. A Jane Birkin fez furor na sua época e quase não tinha peito. Ou seja, as formas perfeitas que aparecem na Jessica Rabbit ou na Uma Thurman são excepções e uma regra nunca se deve construir a partir de uma excepção. O medo de parecer gorda e logo, pouco desejável para os homens, é um mito que existe muito mais dentro da cabeça das mulheres do que do espírito masculino. Já ouvi vários queixarem-se de mulheres demasiado magras, sem nada para ‘agarrar’, assim como já ouvi dezenas de amigos comentarem que perderam interesse por uma mulher porque a beleza não chega; influencia a escolha, mas, não é, per si, suficiente para sustentar uma relação. Logo, ser burra, desinteressante, chata, ou expressar-se mal, podem ser factores decisivos para um homem pôr um par de patins à lasca mais cobiçada do burgo. Na minha infância tinha por hábito lanchar com a minha avó na Bénard. Numa tarde de sol, entrou uma mulher loira, alta, muito bonita e bem vestida. Toda a pastelaria parou e se silenciou a olhar para ela. O pior foi quando, ao aproximar-se do balcão, pronunciou com voz de lavadeira, «eu quero um gelado de chiquelate». O mito desfez-se ali mesmo, até para mim, que era ainda uma criança.E já agora, citando o Francisco José Viegas numa entrevista há um par de anos, o corpo perfeito é o corpo que nós amamos. A perfeição está nos olhos de quem nos deseja e nos ama, e não no espelho ou nos editoriais de moda.
Publicação: sábado, 25 de Novembro de 2006 20:44 por MargaridaRebeloPinto

Sem comentários: