Em 1947, ano do Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia de Egas Moniz, publicou a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, na sua prestigiada colecção “Acta Universitatis Conimbrigensis”, uma pequena monografia de um dos médicos mais notáveis do século XX português, o Doutor Elysio de Moura. O título era “Anorexia Mental” e, logo a abrir, uma “advertência” informava que “este trabalho não foi escrito para ser publicado, mas sim apresssadamente escrito para (...) um dos Cursos de Férias anualmente organizados pela Faculdade de Medicina de Coimbra”. O que é certo é que o trabalho, anunciado assim de forma tão despretensiosa, sobreviveu à erosão do tempo e foi republicado pela Imprensa da Universidade de Coimbra (que em 1947 estava extinta) em colaboração com a Sociedade Portuguesa para o “Estudo da Doença Mental”.Não sou, evidentemente, especialista no assunto mas diz quem sabe que o livro se mantém em larga medida actual. Não podendo apreciar o conteúdo posso, pelo menos, apreciar o estilo. A linguagem com que está escrito é belíssima, sendo por isso perene. Atente-se no seguinte exemplo:“(...)o anoréxico mental – esqueleticamente descarnado – mas de espírito tranquilo, faz lembrar o crente de alma cândida e heroica humildade franciscana, que, de costas voltadas para todos os prazeres mundanois, contempola, dia a dia, com místico deleite, o corpo devastado de penitências e acaba, em êxtase beatífico, a vida terrena, como antegozando a bemaventurança celestial”.Ou nestoutro:“Nada pode proporcionar ao médico um êxito tão revigorante e consolador como a cura de uma anoréxica mental: rapidamente, sem a administração de medicamento algum, sem nenhuma prescrição dietética, sem a aplicação de qualquer agente físico, sem a mais insignificante intervenção sangrenta, sem sequer roçarmos, ao de leve, com a popa de um dedo mindinho no corpo da doente, podemos salvar-lhe a vida”.Elysio de Moura ganhou fama em curar dessa maneira... Falava de milagre quem não sabia a ciência que estava por detrás. Foi essa fama, muito bem lembrada pelo médico psiquiatra Adriano Vaz Serra na sessão de apresentação do livro, que tornou Elysio de Moura uma lenda da medicina e que torna este livro um clássico da psiquiatria.
terça-feira, junho 19, 2007
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