sexta-feira, outubro 30, 2009

Bulimia

Um dos grandes flagelos que abundam na humanidade, e que aumentam numa escala assustadora é a Bulímia - a delinquência da alimentação.

Jaques Thomas retrata-nos uma bulímica a quem era pedido um relatório num hospital de Paris. O neurologista observa um caderninho de escola... Uma letra incisiva e inclinada! Muitas anotações. Entre elas... "São 23 horas, sinto-me mal, muito mal. Apetece-me atirar tudo ao ar. Isto começou há duas horas. Estava sozinha em casa; fechei-me na cozinha como um pesadelo, mas não deixei de comer, de devorar. Estava enjoada, inchada, feia e pegajosa! Fui provocar os vómitos. Foi o meu quinto acesso de bulímia naquele dia".
A bulímia é uma espécie de toxicomania, sem drogas, um mal estar, uma perturbação psíquica que se traduz por uma espécie de delinquência alimentar, 90% dos bulímicos são mulheres. Os alimentos funcionam como inibidores da angústia, não comem por fome, mas por ansiedade. A bulímia é uma faceta trágica duma grave depressão psíquica (20% dos bulímicos fazem pelo menos uma tentativa de suicídio).
As investigações clínicas e psicológicas acerca dos bulímicos, assim como em relação aos anoréxicos, demonstram objectiva e estatísticamente que são doenças que se têm alastrado nas últimas décadas duma forma alarmante. Considera-se que actualmente existem nos Estados Unidos cerca de 5 a 6 milhões de bulímicos e que na Alemanha excedem os 300 mil.
Chama-se "delinquência alimentar", dado estar provado que milhares de pessoas que sofrem de bulímia se escondem para devorarem alimentos que podem ir até 50.000 calorias por dia. Esta doença é conhecida há séculos, mas só nos anos 80 começou a merecer o interesse do corpo clínico. Atinge cada vez mais camadas da população jovem e estes doentes hesitam proceder a tratamentos psicoterapêuticos recorrendo nomeadamente a processos químicos de emagrecimento.
O desiquilíbrio afectivo pode conduzir o individuo a tornar-se numa fonte insaciável que é compensada desastrosamente por graves excessos alimentares.
Enclausuradas no seu drama, frequentemente manietadas pela vergonha, escondem-se nas suas orgias alimentares e evitam partilhar o seu segredo, seja com quem for. Esta doença começa frequentemente na puberdade, na idade em que a adolescente se fixa no corpo. Segundo a psicóloga Yvone Poneet, dedicada ao estudo das anoréxicas e das bulímicas, afirma: "as bulímicas mesmo que tenham apenas alguns quilos a mais vivem sentindo os seus corpos como se fossem desmedidamente disformes e monstruosos. O corpo torna-se uma obsessão...".
A bulímia pode começar por um período de anorexia, isto é, uma perfeita recusa alimentar para emagrecer o mais rapidamente possível. Na maioria dos casos a bulímia manifesta-se após uma dieta. Há que considerar que nem todas as mulheres estão fisiológica e organicamente preparadas para serem magras, havendo a nível corporal manifestações que envolvem o mecanismo psíquico. As bulímicas acabam por sucumbir à sua trágica dependência caindo numa patologia alimentar.
Segundo a teoria de Jaques Thomas, um investigador da medicina psicossomática, sabe-se que a bulímia atinge especialmente as mulheres psicológicamente encerradas nos seus medos. Medo de serem, medo de existirem, medo de si mesmas. Elas existem apenas atavés dos pais, dos maridos, do trabalho.
Não conseguindo afirmar-se na intimidade, não chegando a encontrar a sua identidade, estas adolescentes... ou mulheres, acabam por ter comportamentos de fracasso na sua vida afectiva e sexual.
As bulímicas tentam neutralizar o sofrimento imenso, incontrolável, as suas reclamações afectivas através da sua compulsividade alimentar. Em suma, os desmedidos excessos alimentares servem de trincheira à sua angústia. Chegam a levantar-se na calada da noite e comerem às escondidas sem se sentirem saciadas.
Como se reconciliam consigo próprias? Submetem-se a várias psicoterapias que podem ser individuais ou em grupo e a sua principal finalidade é a de corrigir a imagem pejorativa que têm do seu corpo, o qual chegam a odiar num sofrimento atroz.
Numa primeira etapa é preciso conseguir que não comam até provocarem vómitos. Quanto maior for a distância conseguida entre si e o hábito de comerem, para após frequentemente vomitarem, mais fácil se tornará a cura. A psicoterapia tem também como objectivos ensinar-lhes quem são, quando a confrontação é desejada e assumida, qual é a parte escondida da sua personalidade que elas dificilmente deixam de expressar

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