domingo, janeiro 28, 2007

Fernando Póvoas, especialista em medicina estética, vai lançar o livro “O prazer de emagrecer”

Era uma obrigação social que a medicina estética fosse comparticipada”

Botox, silicone, celulite, estrias, anorexia, bulimia, dietas, cirurgia estética, e todo um vasto conjunto de temas fazem do livro do médico Fernando Póvoas um verdadeiro manual para quem quer emagrecer de um modo racional e eficaz. É pelo menos essa a intenção de Fernando Póvoas ao responder afirmativamente ao convite que recebeu para escrever “O prazer de emagrecer”.
Maria José Guedes(texto)/Carlos Machado (fotos)

“O prazer de emagrecer” é o seu primeiro livro, vai estar nas bancas este mês, foi a resposta a um desafio que lhe lançaram ou sentiu necessidade de falar sobre a sua experiência profissional, de 16 anos de medicina estética?
Foi um desafio que as edições Asa me lançaram, para que eu escrevesse um livro sobre a minha área, obesidade e emagrecimento. Estou ligado praticamente em exclusivo à medicina estética desde 1991.
Por que é que resolveu apostar na medicina estética?
Como tudo na minha vida quase que acontece sem querer. Comecei como clínico geral no Hospital de São João, e depois no centro de saúde de S. Pedro da Cova, no entretanto fui chamado para a tropa, na altura estava a preparar-me para tirar a especialidade de ginecologia e obstetrícia. O problema das mulheres foi sempre o meu problema, (risos) e faço todos os esforços possíveis e imaginários, para as ajudar. Nessa altura já trabalhava como médico do F. Clube do Porto, e ocupava-me muito tempo. Por isso precisava de ter alguma especialidade que me desse para fazer os estágios, os jogos fora…e então fui para o centro de saúde. A clínica geral é das áreas da medicina que mais me encanta, porque temos de ter uma boa cultura médica e temos que saber um pouco de tudo, e isso é muito importante. As urgências deram treino, e na clínica geral tanto vemos o hipertenso como o diabético, como vemos o obeso. E naquela altura já havia muitos. E como era norma a parte dos «gordinhos»…, nós mandava-mos para endocrinologia, mas os resultados que víamos eram francamente poucos. Havia aquelas dietas das cem gramas, meia batata…, cientificamente bem elaboradas, mas muitos difíceis de fazer no nosso dia-a-dia e de resultados muito lentos ou quase invisíveis. E quem quer emagrecer não quer para daqui a seis meses ou um ano. Quer sentir quase no imediato, sentir o cinto a precisar de mais uns buracos, e eu também sentia que não dava grande gozo ao doente. Até que resolvi tentar investir nesta área e ajudar estas doentes.
Fala muito em mulheres, mas os homens também não se preocupam com a imagem?
Tem razão, mas é de deformação profissional que há sempre a tendência para falar só de mulheres. Mas efectivamente a maioria são mulheres. São elas que mais sofrem com a obesidade e que mais vezes vão ao médico. Também temos muitos homens obesos, hoje cada vez se cuidam mais, mas normalmente só vão quando têm um problema de hipertensão ou diabetes, ou porque o vizinho teve um enfarte. Enquanto que a mulher faz muito mais profilaxia. Procura evitar que chegue à doença.
Tem a ver com a vaidade?
Todos nós temos que ser vaidosos, mas a mulher por excelência, porque ela por natureza encanta-nos e tem necessidade de ser admirada. Hoje existem mais mulheres do que homens e se elas não se cuidarem ficam para «tias» com muita facilidade.
As mais gordinhas, que não obesas, têm cada vez mais tendência para procurarem clínicas especializadas…
Há mulheres que nunca serão magras, até pela sua própria estrutura óssea, mas podem deixar de ser tão fortes. Podem aprender a comer, a fazer algum exercício, porque depois de terem os seus filhos, depois da menopausa, ou a partir dos 40, têm mais retenção de líquidos, têm mais tendência para o aumento de peso…e há maneiras de contrariar isto.
São estas questões que podemos ler no seu livro?
”O prazer de emagrecer” é um livro que tem uma súmula da experiência ao longo de 16 anos dedicados à obesidade e às questões da medicina estética. Explica por que é que se engorda, as diversas causas que levam ao aumento de peso, e elas são tantas, daí que o tratamento da obesidade seja tão difícil.
O facto de as pessoas não saberem comer, pode dizer-se que é a causa transversal para se engordar?
É uma das causas, mas não é a principal. Na minha opinião a causa genética é marcante, a hereditariedade de pais para filhos é bastante marcante e os problemas do dia-a-dia, stress, ansiedade, depressões…o que a experiência me vai dizendo é que o problema está no «capacete». Ou seja a nossa cabeça quando não está bem, quando anda mais triste, angustiada, afoga-se normalmente na comida. É o seu escape. E muitas vezes trata-se de uma obesidade não com um plano alimentar muito correcto mas sim controlando-lhe a ansiedade, a depressão, e temos óptimos resultados. Para isso é preciso ter tempo para os ouvir. Não podemos dizer que só é gordo porque come, isso é muito injusto.
Quando se começa uma dieta, muitas vezes passa-se fome, priva-se do que se mais gosta, enfim! Então como é que há prazer em emagrecer”?
Claro que há prazer em emagrecer. A filosofia que tenho perante o tratamento da obesidade, é ligeiramente diferente do que é mais comum. Não gosto de dietas muito restritivas, muito punitivas. Procuro sempre saber do que é que as pessoas mais gostam. E dou-lhes sempre autorização para comerem uma ou duas vezes por semana. Para que não se sintam muito castradas, muito diferentes dos outros. Procuro fazer um plano alimentar em que tenha de tudo, sempre dizendo que não há alimentos maus ou bons, há é alimentos que podemos comer mais vezes e outros menos. Se pensarmos nesta filosofia, e se conseguir motivá-las torna-se mais fácil. E o «prazer» está durante as perdas de quilos, ver a maneira como se arranjam, começam a pintar-se, começam a subir a saia, roupas mais justas…a sua auto-estima eleva-se e isso dá-lhes prazer. E esse é também o nosso prazer, dos médicos. Fico muito feliz.
É necessário alguma acompanhamento psicológico para casos complicados de obesidade?
Ficam afectadas quando têm peso a mais. Isto porque a sua imagem ao espelho não é a que elas desejam, porque não são admiradas…muitas vezes o gordo tem necessidade para ser mais extrovertido para ser notado. Mas são uns falsos felizes. É vê-los sentados à nossa frente no consultório. Porque debaixo de toda a brincadeira e de contarem muitas anedotas, e por serem muito simpáticos, porque são, não quer dizer que sejam felizes. Quando entram no consultório mostram toda a sua tristeza, a sua dificuldade em vestir-se, em arranjar namoradas ou namorados, em casar, em arranjar emprego…
Há descriminação?
O primeiro contacto, o visual é, infelizmente, muito importante. Eles sentem essas dificuldades. Eu sentia e sinto isso na conversa com as doentes. Mas não é o facto de serem mais ou menos gordos ou gordas que são mais ou menos capazes.
Nas suas clínicas e nas dietas que aconselha a cirurgia é um dos caminhos?
Depende do tipo de obesidade, depende da carteira do doente. Nós temos a cirurgia plástica a funcionar, e o livro também se dedica um pouco à cirurgia plástica, que tem evoluído cada vez mais. Os tabus da cirurgia plástica acabaram em Portugal, hoje é quase moda. Mas de um modo geral não é esse o nosso caminho, nós encaminhamo-los fundamentalmente para uma mudança de hábitos alimentares e para uma incentivação ao exercício físico.
E químicos?
Químicos ou plantas…, existem duas filosofias que cada vez mais se vão convergindo. Uma que entende que o gordo é gordo porque come de mais, e se cortas à alimentação não engorda e há outra à qual eu pertenço e de que sou um acérrimo defensor que dita que obesidade é uma doença crónica, tal como a diabetes e a hipertensão, e como tal precisa de ajuda. É muito simples fazer um plano alimentar correcto, mas muitas vezes é difícil cumpri-lo, e se não houver uma ajuda a pessoa desincentiva. São muito importantes os resultados nos primeiros quinze dias, primeiro mês.
São ou não perigosos os medicamentos de venda livre e que se destinam a emagrecer?
Não é possível vender medicamentos sem receita médica e os que se vendem emagrecem é o bolso das pessoas, ou são laxantes ou diuréticos de resultados duvidosos, muitas vezes extremamente caros, e quando tomados em excesso e sem noção do que se está a fazer podem ser perigosos. Mas o risco maior que correm é o dinheiro que deitam fora. O medicamento é apenas uma ajuda para uma certa finalidade, uma ajuda. Quem não tiver um certo cuidado alimentar não vai ter resultados, apesar de quase todos os gordos percorrerem todas as capelinhas possíveis e imaginárias, até bruxos e bruxas, sempre à espera que apareça o tal medicamento que lhe permita comer de tudo e emagrecer. Isso não existe. Só para pouparem na consulta compram o que está a «dar» na farmácia e noventa por cento das pessoas são enganadas.
Para quem quer emagrecer alguns quilinhos o tratamento dura quanto tempo?
Tudo depende do tipo do gordinho. Há os que têm uma componente genética muito marcada e esses têm que ter cuidado toda a vida. Nós podemos levar as pessoas ao peso ideal e a pessoa ficar cinco estrelas, mas depois não podem voltar a comer e beber de tudo como o faziam, ou voltam a ganhar peso. Há outros que engordaram porque houve um factor externo, por exemplo uma gravidez, uma depressão ou deixaram de fumar, e nós fazemos a correcção. A pessoa volta ao seu peso ideal e depois as pessoas acabam por mantê-lo, naturalmente. E há muitos medicamentos que se tomam que fazem aumentar o peso, e a maior parte da classe médica não está despertada para esse problema. Quantos médicos mandam as pessoas emagrecer e dão medicamentos sendo que um dos efeitos secundários é o aumento do peso.
A medicina estética devia ser comparticipada?
Era uma obrigação social. O obeso é sempre o parente pobre e os medicamentos para a obesidade aprovados pela FDA e custam perto dos 90 euros mês. Quem é que pode? Não são comparticipados. Mas uma obesidade arrasta uma hipertensão, diabetes, problemas articulares, depressivos…e depois comparticipa-mos as consequências dessa obesidade. Está errado. Se os medicamentos fossem mais acessíveis e comparticipados, as outras doenças que vêm por arrasto seriam evitadas, como acidentes vasculares, enfartes, etc.
As clínicas não recebem qualquer percentagem sobre os medicamentos que aconselham, para emagrecer?
Não, é um problema das farmácias e dos farmacêuticos. Devia-se comparticipar os medicamentos até porque as pessoas cumpririam melhor. As pessoas às vezes poupam nos medicamentos e depois o tratamento não resulta.
Eu fiz uma exposição ao IFARMED, nesse sentido, justificando que as dificuldades económicas das pessoas em pagarem os medicamentos eram fundamentais para a saúde deles e do País. A obesidade é a doença metabólica mais comum da Europa.
Morre-se muito de obesidade?
É uma das principais causas de morte. A causa número um de morte é o acidente vascular cerebral, os AVC, os enfartes. E a causa dos enfartes, a número um, está no excesso de peso, aumento do colesterol, os triglicerídios a hipertensão…
Foi nesse sentido que fez a exposição!
Foi, e a razão que me deram é que, apesar de ter toda a lógica, a fobia e a luta pelas magrezas é tão grande que muitas vezes, esse medicamento que era fundamentalmente dirigido ao gordo, as pessoas com dois ou três quilos a mais também iriam querer comprar. Logo estariam a beneficiar alguém que não necessitaria.
Mas essa triagem não é sempre feita pelo médico?
Devia ser, mas acredite que a pressão que as pessoas fazem é enorme. Às vezes fazem mais pressão as pessoas que querem emagrecer dois ou três quilos do que um obeso que precisa perder 50. Hoje, principalmente as mulheres, sofrem uma pressão social tão grande e a fobia pela magreza é tão grande que muitas vezes tenho muita pressão por aqueles que têm meia dúzia de quilos para perder, mais do que dos outros que têm muitos quilos para tirar.
É a moda a comandar?
É a imagem.. Só se vendem roupas com números pequenos, pelo menos as mais bonitas, o que é injusto, enfim...
Um dos capítulos do seu livro é dedicado à anorexia. Mas sempre que se fala dessa doença apresenta-se como exemplo a mulher. E o homem, sofre ou não de anorexia?
Sou médico há 27 anos, nesta especialidade estou há 16, e durante todo este tempo tive um caso de anorexia de homem, e uma dúzia, nem tanto, de mulheres com anorexia. A percentagem de anorexia de mulher/homem é de dez para um. É mais raro nos homens e não se sabe porquê. Ainda sabemos muito pouco sobre a anorexia. Só desde 91 é que se começou a chamar anorexia nervosa, até aí tinham outros nomes, apesar de serem descritas desde 1890. Não sabemos quais as origens ou causas.
Sintomas da anorexia.
É uma imagem distorcida no espelho. As pessoas olham para o espelho e conseguem ver gordura em todo lado. São normalmente perfeccionistas, muito boas alunas, têm uma certa tendência para fazerem muito exercício, procurar o máximo gasto calórico. Fazem uma alimentação auto-induzida, isto é, começam a fazer restrições na sua alimentação, são muito inteligentes e por isso conseguem enganar quem vive com elas.
Que consequências é que isso tem?
Magreza, apesar de verem sempre uma ou outra parte do corpo com gordura, começam a ficar fracas, começa a cair o cabelo e perdem o período menstrual. Entram em amenorreia. Evitam as relações sexuais (ao contrário da bulímica, que já tem uma atitude diferente perante as relações sexuais), isto talvez pelo medo de uma gravidez que lhes pode deformar o corpo, e são doentes de muito difícil tratamento.
São geralmente muito novas.
A partir dos 13 anos até aos 20, é a idade mais critica. Mas fala-se mais do que o que existe. Existem muitos mais gordos do que anorécticos. E injustamente liga-se a anorexia à moda. A verdade é que a maioria das anorécticas não tem nada a ver com o mundo da moda. Só que a moda tem muito mais exposição, são mais mediáticas. E ainda existe um certo tabu…ainda se escondem as nossas filhas anorécticas, porque é um problema da família, porque toda a gente sofre como problema. É muito triste para uns pais quererem que a filha coma e ela negar completamente a alimentação.
O tratamento é mais ou menos demorado, do que o tratamento de um obeso?
É muito mais demorado. Necessita de uma equipa multidisciplinar, onde a psicologia e a psiquiatria têm papéis muito importantes, só depois é que entra a endocrinologia e os dietistas. Leva, muitas vezes, a internamentos difíceis e tem que estar sempre alguém ao pé para elas comerem.
E a bulimia?
Faz parte de um dos distúrbios alimentares. Já são mais fáceis de tratar. Enquanto o anoréctico deixa de comer e nunca diz que está doente, a bulimíca tem períodos de comer compulsivo, come desenfreadamente e sem critério: é capaz de abrir o frigorífico às duas ou três da manhã e come tudo, sopa fria…até se empanturrar. Depois dá-lhe um acesso de culpa e mete os dedos à boca e vomita. Isto pode acontecer duas ou três vezes por dia. Esta pessoa tem consciência que não está bem, que não é normal este comportamento, e procura tratamento.
No seu livro há também a área da estética…
Tem uma área da estética, tratamento da celulite, estrias, massagens, os botox…para que as pessoas sejam menos enganadas. É uma área onde se engana muito. Todos os dias abrem-se institutos de beleza, mas todos os dias também se fecham institutos de beleza por enganarem as pessoas.
E nesses institutos não há médicos…
Não, é a senhora do senhor empreiteiro que tem dinheiro e que resolveu montar um instituto porque a beleza está na moda…É perigoso para quem faz e as pessoas não são responsabilizadas pelo que fazem. Ainda hoje se queixam pouco. Se o meu livro for útil a esta gente, pelo menos para mudar alguns hábitos e ficar a conhecer este problema de outra maneira, já é positivo.
No livro encontram-se conselhos para quem quer emagrecer e não tem dinheiro para recorrer a uma clínica?
Não é obrigatório ir a uma clínica. Podem dali tirar aprendizagens. Também se ensina a cozinhar, vários tipos de sopas que se podem fazer, os assados, os refogados…tem a dieta transcrita, a que eu normalmente preconizo para a maioria dos meus pacientes. Não é obrigatório já lá irem, o que é mau para mim (risos), tem claro a finalidade de tentar ensinar. É o resumo de quase uma vida de 16 anos e as pessoas podem aprender muito. Espero.
Os seus conselhos são para todas as bolsas?
São. A medicação que eu aconselho custa cerca de 15 euros por mês.
O exercício físico é fundamental, mas tem que passar obrigatoriamente pelo ginásio?
Quem pensa perder uns quilos tem que pensar em duas coisas: mudar hábitos e exercício físico. Só cinco por cento dos portugueses é que praticam algum exercício. E o exercício é fundamental para a saúde. Mas não é preciso ir para um ginásio. O melhor exercício para emagrecer é a caminhada. Não é andar a ver montras, é em passo largo em que se sintam as virilhas a abrir, pelo menos trinta minutos. E esse tempo todos nós temos que ter. E não tem hora para o fazer. Para quem anda no ginásio dou como conselho fazer de manhã. Antes de começar a trabalhar.
Botox faz mal?
Nem podem administrar em casa, nem no cabeleireiro mais próximo, nem na esteticista. Tem de ser feito sempre por médicos, única e exclusivamente. E por médicos experientes, caso contrário correm riscos. Se for com médicos experientes não correm riscos, podem fazer duas a três vezes por ano, sem qualquer inconveniente.
Silicone, pode fazer-se a vida normal a partir do momento em que se faz um implante?
Perfeitamente normal. O silicone, o único inconveniente que tem é se um dia a bolsa rebentar, mas nesse caso o nosso organismo absorve. Não tem qualquer risco. Pode fazer a sua vida perfeitamente normal, inclusive a sexual, aí até vai fazer mais vezes porque fica mais apetitosa.
Celulite?
A celulite tem tratamento, existem técnicas excelentes, tanto a nível medicamentoso, mamélias…são medicamentos que fazem um bom efeito, melhoram a drenagem linfática, como existe a endermologia que é do melhor que existe para a celulite. Depois há os tratamentos localizados como a mesoterapia, que nunca pode ser «à balda». É evidente que há pessoas que precisam de um tratamento mensal, pessoas que têm problemas circulatórios, caso contrário ela volta.
Tudo isto está no “O prazer de emagrecer”.
Tudo. Espero que seja útil.

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