quinta-feira, julho 19, 2007

Tese da UFMG propõe abordagem psíquica da anorexia e da bulimia

O corpo apresenta os sintomas. A pessoa passa a criar todo um ritual em torno da alimentação. Mas, tudo isso encobre, de fato, fatores psíquicos que fogem ao controle e podem levar até 20% dos pacientes à morte devido a estado de desnutrição agudo. Apenas 1/3 dos pacientes se recupera. E cultura contemporânea reforça esse processo, com o culto massificado ao corpo magro.

Essas são algumas das conclusões do estudo "Anorexia e bulimia - Um transtorno alimentar: não se trata disso", dissertação de mestrado da pediatra e ebiatra (especialista em adolescentes) Tatiana Mattos do Amaral, defendida dentro do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, área de concentração em Saúde da Criança e do Adolescente, da Faculdade de Medicina da UFMG. O orientador da dissertação foi psicanalista Roberto Assis Ferreira, professor do Departamento de Pediatria e membro do Núcleo de Investigação em Anorexia e Bulimia do Hospital das Clínicas da UFMG (Niab), onde o estudo foi desenvolvido.

"Eu não quero engordar agora, só depois que a minha mente se acalmar". A frase pronunciada por uma das pacientes atendidas resume o ponto central do trabalho: a pesquisa comprova que a intervenção no sintoma psíquico deve ser o foco do tratamento. A abordagem médica e a realimentação devem ser auxiliares de um trabalho terapêutico mais amplo.

A escuta atenta da história de vida de anoréxicas e bulímicas permitiu constatar que para cada uma houve um desencadeador. A perda de uma pessoa querida ou qualquer outro momento difícil em suas vidas promoveu uma distorção da própria imagem corporal. Submetidas ao padrão de beleza contemporâneo - o qual contempla a mulher magra - elas começaram a se achar gordas, mesmo sem nunca terem sido.

"O sintoma psíquico caminha junto com a cultura", afirma Tatiana, que exemplifica dizendo que várias mulheres da época de Freud (1856-1939) já localizavam no corpo sintomas psíquicos, "mas eram sintomas diferentes dos de hoje, específicos daquela época", reforça.

A Bulimia e a Anorexia nervosas são doenças agressivas, que trazem graves conseqüências para o organismo. Em ambos os casos o índice de mortalidade é alto. "Mas há uma saída, e cada paciente pode encontrar a sua de maneira muito particular, expõe a médica".

OS NÚMEROS

Aproximadamente um terço das pacientes com Anorexia desenvolvem Bulimia. A mortalidade a curto prazo é de 1 a 5 %, mas a mortalidade a longo prazo excede 20% e quase metade delas correspondem a suicídio.

Anorexia

Classicamente uma enfermidade da classe média e alta das áreas metropolitanas, se transformou em uma enfermidade global no que diz respeito à raça, classe social, sexo e idade, comprometendo inclusive menores de 12 anos.

- Uma em cada duzentas mulheres será diagnosticada com Anorexia (0,5%);
- A prevalência da doença é de dez mulheres para um homem;
- Mais de 90% de todos os casos acontecem em mulheres;
- Dentre os indivíduos internados em hospitais universitários, a mortalidade a longo prazo é de mais de 10%;
- A morte ocorre com mais freqüência por inanição, suicídio ou desequilíbrio hidro-eletrolítico.

Bulimia

Em Mina Gerais um estudo com 1807 escolares entre 7 e 19 anos mostrou uma prevalência de 13,3% de condutas alimentares, sendo 1,1% de Bulimia.

A prevalência entre mulheres adolescentes e adultos jovens é de aproximadamente 1 a 3%, taxa dez vezes maior que em homens. Em amostras clínicas e populacionais, pelo menos 90% dos casos ocorrem em mulheres.

Alguns dados sugerem que homens com a doença têm maior prevalência de obesidade pré-mórbida do que as mulheres com o transtorno.

Apoio da família e atendimento humanizado

Para Tatiana do Amaral, as pacientes do Niab, do Hospital das Clínicas, que tiveram seus casos estudados, procuram um cuidado mais humano. "Algo além da ?cura? do sintoma anoréxico e bulímico", afirma. A partir do acolhimento e da escuta, as pacientes têm a possibilidade de contextualizar seus sintomas. Entender o signifiado desses sintomas é a chave para poder abandoná-los e resolver seus problemas de outra forma. "Como uma paciente, que deixou de ser bulímica ao constituir família", exemplifica a pesquisadora, destacando o apoio da família como fundamental nesse processo.

O orientador Roberto Assis diz que é pouco comum a produção de uma tese universitária com essa direção. "Este é um estudo muito rico, que demonstra como todos os casos tiveram ou estão tendo a sua solução, mas em questões que estão totalmente fora do enfoque normalmente dado aos transtornos alimentares", valoriza.

Serviço

O Niab (Núcleo de Investigação em Anorexia e Bulimia) funciona todas às sextas-feiras, de 13 às 17 horas, no 6º andar do Ambulatório Bias Fortes. Todas as pessoas que demandam atendimento passam por um acolhimento, realizado nas sextas-feiras, entre 13 e 14 horas, realizado por profissionais do Núcleo. A partir do acolhimento, as consultas são marcadas conforme a necessidade. O Ambulatório Bias Fortes fica no Hospital das Clínicas da UFMG (Avenida professor Alfredo Balena 110, bairro Santa Efigênia, em Belo Horizonte). O telefone é (31) 3248 9545.

Fonte: UFMG

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