terça-feira, outubro 09, 2007

Não à anorexia

O fotógrafo italiano Oliviero Toscani criou uma campanha para a grife de roupas Nolita estampou, em jornais e outdoors da Itália, a imagem chocante de uma modelo anoréxica ao lado dos dizeres "Não à anorexia".
A modelo é a francesa Isabelle Caro, que pesa apenas 31 quilos e sofre da doença há mais de 15 anos. Estrela de conhecidas marcas italianas, ela acabou afastada da profissão por causa da doença.
A campanha do fotógrafo, que recebeu aval do Ministério da Saúde do país, coincide com a Semana Internacional de Moda de Milão, umas das mais importantes do mundo da moda.
Toscani é conhecido pelas polêmicas campanhas publicitárias da marca Benetton, que tratavam de temas como racismo, AIDS e guerra. “Toda a publicidade de moda se afastou da condição humana, se tornou abstrata. Esvaziaram o ser humano. Olhamos essas campanhas e vemos o vazio, e dizemos a nós mesmo: essas pessoas são como garrafas vazias”, disse o fotógrafo a BBC.
De seu escritório, em Piza, na Itália, Toscani concedeu a seguinte entrevista a ÉPOCA:
ÉPOCA - Por que você escolheu uma modelo anoréxica para estampar a campanha de uma grife de roupa? Oliviero Toscani - Porque elas são muito responsáveis pela anorexia, mas não todas elas. Com a exposição, quero que as pessoas se choquem e discutam o problema.
ÉPOCA - Foi difícil convencer uma modelo anoréxica a posar? Toscani – Não, de maneira nenhuma. As pessoas anoréxicas querem ser o centro da atenção. Elas são narcisistas, egocêntricas e presunçosas e, por isso, elas querem estar lá. Havia centenas de modelos que gostariam de fazer a campanha. Nós a escolhemos porque ela se parece estúpida o bastante para ser anoréxica. ÉPOCA – Os críticos disseram que a modelo deveria estar em um hospital, e não em um outdoor. Qual sua posição diante disso? Toscani – Qualquer pessoa pode dizer o que quiser. Eu não posso responder a todo mundo. Eu faço o que quero fazer e é o que posso fazer. Se as pessoas gostarem, OK, se não gostarem, muito melhor. Eu não posso responder a toda crítica. Eu não dou a mínima para a crítica. ÉPOCA - O papel da publicidade é educar? Toscani - Toda publicidade diz alguma coisa a você. Algumas dizem apenas coisas estúpidas. Outras falam seriamente com você. Eu não entendo por que um anúncio tem que ser estúpido quando ele pode vender um produto e dizer coisas importantes. ÉPOCA – A melhor estratégia para vender um produto é abraçar uma causa social? Toscani – Eu não vendo nenhum produto. Eu comunico. ÉPOCA – O senhor se considera um precursor da responsabilidade social? Toscani – Sim, eu comecei essa porcaria. E todo mundo que faz uma coisa primeiro é alvo de muita crítica. Se você é um pioneiro, não deve ligar para isso. ÉPOCA – O senhor faz isso desde, pelo menos, 1982. Em sua opinião, suas campanhas contribuíram para melhorar a realidade? Toscani – Não me faça essa pergunta. Eu apenas falo sobre aquilo que acho interessante. Sou como um jornalista. ÉPOCA – Sua última campanha pela Benetton, que mostrava o rosto de vários condenados do corredor da morte, causou tanta polêmica que a parceria bem-sucedida de tantos anos foi quebrada. O que deu errado? Toscani – Por que deu errado? Nada deu errado. Todo mundo entendeu a questão [a crítica contra a pena de morte] e isso está sendo discutido na ONU. Foi um grande sucesso na verdade. O melhor trabalho que já fiz. A Benetton, provavelmente, deve estar arrependida porque não está mais no topo.

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